📅 Dia do Trabalho ou do Trabalhador? Como Getúlio Vargas mudou o sentido do 1º de Maio no Brasil

De data de luta operária a cerimônia de Estado: o feriado que virou símbolo do controle sobre os trabalhadores

TRABALHO

FuroWeb

5/1/20252 min read

'Getúlio Vargas criou o Ministério do Trabalho, legalizou os sindicatos e atrelou os trabalhadores ao Estado', diz historiador — Foto: Palácio do Planalto via BBC

O que começou como uma mobilização histórica por direitos trabalhistas, em 1886, em Chicago, transformou-se ao longo do tempo em algo bem diferente no Brasil. O Primeiro de Maio, originalmente marcado por protestos e bandeiras operárias, foi “ressignificado” por Getúlio Vargas — de Dia do Trabalhador para Dia do Trabalho, com todo o peso simbólico e político que essa troca de palavras carrega.

✊🏼 De greves à institucionalização Se no fim do século 19 os trabalhadores brasileiros se inspiravam nas lutas internacionais por melhores condições de trabalho, Vargas enxergou na data uma oportunidade de domesticar e controlar esse movimento. Sob o discurso de valorização do trabalhador, criou o Ministério do Trabalho, legalizou sindicatos — e os atrelou ao Estado.

“O que era um grito de revolta virou um evento cívico, com bandeiras nacionais no lugar das comunistas ou anarquistas”, explica o historiador Claudio Bertolli Filho. A oficialização da data veio ainda em 1924, com o presidente Artur Bernardes, mas foi no Estado Novo que o feriado ganhou contornos populistas e nacionalistas, moldados pela propaganda de Vargas.

🎙️ CLT, salário mínimo... e culto à personalidade A sanção da CLT em 1943, em pleno Primeiro de Maio, coroou essa virada simbólica. Vargas não apenas legislava sobre os direitos dos trabalhadores, mas se posicionava como o "pai dos pobres", o benfeitor máximo, aquele que “dava” direitos — e não alguém que os trabalhadores conquistavam com luta.

📢 “A data foi sequestrada pelo Estado”, dizem os historiadores. As manifestações deram lugar a discursos oficiais, shows musicais, distribuição de brindes e sorteios. O espírito combativo deu lugar ao palanque governamental.

📉 Despolitização e apagamento Com o passar das décadas, o 1º de Maio foi perdendo sua identidade política. Hoje, é mais lembrado como feriado de descanso e lazer do que como símbolo da luta operária. “É cada vez menos um dia de mobilização e cada vez mais um dia de palco e entretenimento”, avalia Marcelo Galves, da UEMA.

📜 Um passado de resistência Antes do “roubo” simbólico da data, o Brasil já tinha uma rica história de mobilizações: desde os atos influenciados pela Revolução Francesa no final do século 19 até a Greve Geral de 1917, com 70 mil trabalhadores paralisando São Paulo.

Comício em Porto Alegre em homenagem a Getúlio Vargas, sem data definida — Foto: Arquivo Nacional via BBC

Mesmo assim, o projeto varguista venceu: institucionalizou a luta e transformou a data em vitrine do poder estatal, apagando boa parte da sua essência reivindicatória.